sábado, 22 de outubro de 2011

Sintonia

Amo-te porque te conheço.
O teu vazio é o meu vazio.
O tua dor é a minha dor.
O teu sorriso é o meu sorriso.
Amo-te à noite e te admiro intensamente ao acordar
Amo-te quando somos amantes
E amo-te mesmo quando só me resta lembrar
E por acreditar nesse sentir assim tão verdadeiro
Porém, ciente dos poucos anos que carrego,
Concluo meu amor, sem desespero
Há muitos momentos para viver
E amar-te está em primeiro.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Ao sul

Minhas mãos estão em carne viva, lascas de pele é tudo que resta.
O sol queima, a água arde.
Água há pouco e o sol abunda.
Em tudo há sol e ao sul não há nada.
Nada além de uma estrada de areia,
Um homem trajando farrapos listrados caminhando sem pressa,
Arrastando com dificuldade o seu fardo. 
(Certamente uma extensão mais pesada que seu próprio corpo)
No seu rosto não há sorriso, nem tristeza, nem medo.
Apenas olha a estrada, vai se afastando passo a passo do ponto de partida
E se aproximando, passo após passo da linha de chegada.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Moral da História

Eu estou morrendo,
Mas não fique triste.
Você também vai morrer um dia e eu não vou chorar por isso.
É que agora me restam apenas alguns segundos de vida
E eu gostaria de deixar minhas últimas palavras:
Mar, ah o mar.
Mar, o que importa é o mar.
Ai, acho que eu me confundi.
Era a mar.
O que importa na vida é amar.

domingo, 31 de julho de 2011

Eu tenho medo do escuro.
Durmo com a luz ligada até de dia.
Não suporto a cegueira, não ver me enlouquece.
Adormeço com olhos abertos, até isso aprendi.
Pisco em uma fração de segundos que sequer registro a existência do preto.
Hoje 20:17 pela primeira vez em 40 anos faltou luz.
"Mesmo com três geradores ligados?", questionei.
Na resposta não há dúvida: - só apagou porque eu morri.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Janela

E quando elas passam duas as duas pela rua, braços dados, demonstrando uma irreal fidelidade, aspirando ser algo que ainda não são. Desejando um amor inesperado, um príncipe não... um fora da lei! Cochicham ao pé do ouvido as impressões e julgamentos dos que por elas cruzam.
E elas falam de mim, pensam que eu não percebo, mas eu as vejo bem daqui. Olham para mim e riem, como se eu tivesse a responsabilidade de ter ficado velha e bonita, mau sabem que ficarão tão velhas e tão enrugadas quanto eu. Talvez usem um pouco mais de maquiagem, tentando esconder atrás da massa quem realmente são. Pobre do marido, se arranjarem um.
Passa todo o tipo de gente curiosa aqui na rua. O carpinteiro descalço. Os garotos tri-gêmeos, que apesar de serem diferentes estão sempre vestidos iguais. E as meninas que andam em parzinho. Delas gosto mais, me faz lembrar de um tempo que não volta, mas que se repete em frente a minha janela.
Ah, e tinha também esse menino que me olhava pela janela. Escrevi até um poema sobre ele.

terça-feira, 28 de junho de 2011

O Significado das Coisas

Embaixo do viaduto João Pessoa
Enrolada em surrados cobertores,
Ela estava deitada.
Uma das mãos segurando um livro e a outra gesticulava.
Gestos intensamente proféticos.
Não estivesse ao chão, já teria cativado alguma platéia.

Ao som de música alta, fones de ouvido, eu não escutava suas palavras.
Porém interessada em descobrir de que se tratava o livro que ela tão convicta declamava.
Perto cheguei,
Sem que minha presença fosse percebida,
E então pude entender:
Aquela mulher solitária profetizava ao vento
O verdadeiro significado das coisas.
Uma profeta acamada que tinha em mãos um dicionário

domingo, 12 de junho de 2011


Amamos não porque seja tu
Ou porque seja eu
Amamos porque sentimos falta do amor
E sem amor, só resta a morte.
Amamos porque não existem motivos.
O amor por si só é a razão,
É a desculpa para todas as loucuras que vamos cometer.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Amor sem medo

Que bela serenata fazem os anjos
Para os amantes que na noite passeiam
Não sentem qualquer receio da morte
Seus coraçõezinhos com amor já estão de veras cheios
Ao se mirarem sentem tanta confiança
que distraídos, sequer percebem um ameaçador olhar alheio.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

AO PASSO QUE PASSA

Vejo teus olhos tristes.
E como um fio de otimismo ainda resta dentro de tua alma
Tua boca anuncia: - Vai passar...
Tudo passa.
Deixemos essa tristeza para trás e vamos em busca de tristezas melhores
Desafios mais coerentes com o espectro que agora reflete no espelho
Meu conforto na vida é a liberdade que me prende.
Esse anseio que habita o peito dos inconformados,
Essa disposição inexplicável de voltar para o princípio, e percorrer o caminho
Sem qualquer miragem de um fim
O desejo por tentar
É o que move montanhas.
É o que me move para o lado de lá da montanha.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Paisagens Humanas

Fiquei ali, contemplando por uns 40 minutos
Decifrando as medidas do seu rosto
Tão simétrico, tão exótico.
Os olhos azuis, a pele clara, as maças dos rosto levemente rosadas.
Mas não era comum, não era uma boneca.
Ela sorriu e percebi que lhe faltava um dos dentes da frente.
E não apenas sorriu, como gargalhou.
E naquele momento completou-se sua beleza e meu encanto profundo.
Pensei: não era apenas bela, era também feliz.